Levar cães à praia: por que não pode

Ir à praia é uma delícia, e para quem ama seus pets, dá aquela vontade de que eles partilhem desses momentos tão relaxantes e divertidos. Explico porque não se pode levar cães à praia no Brasil, e teço as minhas considerações.

cães à praia

Em grande parte do litoral brasileiro é lei: é proibido levar cães à praia, e a infração é passível de multa. As determinações, que geralmente são regionais, sustentam dois pontos:

  1. a questão sanitária, pois além de sujar as praias, dejetos de cães podem transmitir doenças;
  2. a questão da segurança e liberdade, pois há pessoas que não gostam de cães e cães que não são suficientemente sociáveis para frequentar locais públicos.

Entretanto, vamos aos fatos. Em relação à questão sanitária, o maior risco está na transmissão da larva migrans cutânea, conhecida como bicho geográfico. Esta doença de pele é causada por vermes nematódeos Ancylostoma, propagados por cães e gatos através das fezes. As larvas penetram na pele, causam lesões que lembram “caminhos” (daí o nome popular “geográfico”) e muita coceira. Nos animais, é uma verminose que, quando em estágio avançado, causa sintomas como anemia, fadiga e dificuldades respiratórias. Ou seja, se seu pet for vermifugado de acordo com a orientação do seu veterinário, a possibilidade de transmitir o bicho geográfico – que pode ocorrer também no jardim da sua casa, não apenas na praia – é mínima.

A responsabilidade dos humanos

Quanto à manutenção da limpeza das praias, a questão também é óbvia: humano responsável cata o cocô do seu cachorro, seja onde for – na rua, na praça, no parque e logicamente na praia. Assistir um cão fazendo suas necessidades na praia não é agradável, lógico. Mas o que dizer da sujeira que as pessoas deixam na areia? Sabugos de milho, bitucas de cigarro, sacos plásticos, e o que é pior, latas e garrafas. Essa sujeira, ainda que considerada “normal”, é super nociva ao meio ambiente, e também pode causar doenças – um pedaço de metal enferrujado, por exemplo, pode transmitir tétano. Em resumo, a limpeza da praia, seja ela oriunda do cachorro ou do humano, depende em última análise de quem frequenta o espaço.

Liberdade e segurança

Outro ponto importante a ser considerado é a liberdade e segurança das pessoas em locais públicos. Claro, ninguém é obrigado a gostar de cachorros. Imagine a situação: uma pessoa que morre de medo de cães é abordada por um de grande porte, enquanto relaxa debaixo do seu guarda-sol. Seja ele sociável ou não, o susto será grande, e o desconforto também. Ou quem sabe uma fofa como a Antonia, correndo na praia literalmente “empanada” em areia, resolva pular no colo de alguém para dar um “oi”? E se um cão qualquer, solto na praia, não for tão sociável assim? E se ele atacar uma criança ou um idoso, ou mesmo resolver que quer a bola que o pessoal está usando no volei de praia? Chato. Muito chato. Não gostar de cachorro não é proibido (apesar de que eu considero defeito de fabricação…), mas permitir que um cão importune uma pessoa num local público é culpa do humano que o acompanha e que é responsável por sua educação e condução.

Certamente, as leis são feitas para todos, portanto os erros de alguns trazem consequências para toda a sociedade. A restrição de animais em praias tem um ponto em comum: a falta de respeito, responsabilidade e educação de certas pessoas. Não são os animais que não podem ir às praias. São as pessoas que não podem levá-los.

O que acontece em locais mais civilizados

Eu gostaria de citar o exemplo de Huntington Dog Beach, na California, a mais conhecida praia para cães dos EUA – em todo o país são cerca de 400. Lá é realizado o Surf City Surf Dog, campeonato de surf para cães que teve o Labrador brasileiro Bono como campeão em 2014. Para começar, o espaço é preservado por uma instituição sem fins lucrativos, que vive de doações e zela por sua manutenção. A responsabilidade pela utilização da praia recai sobre os humanos que acompanham os cães, e há um conjunto de regras claríssimas no site http://www.dogbeach.org/ e no local. Em relação especificamente aos três pontos que estou discutindo nesse post:

  1. Todas as pessoas que frequentam a praia tem um interesse em comum, que são seus cães. Portanto, são responsáveis por sua saúde e pela integridade física dos outros cães e humanos. Obviamente, os cães são vacinados, vermifugados e recebem todos os cuidados necessários.
  2. Todas as pessoas que frequentam o espaço são responsáveis por recolher a sujeira que seus pets eventualmente façam, e isso é uma coisa absolutamente natural. A instituição fornece os saquinhos e os lixos. As pessoas fazem a limpeza.
  3. Todas os frequentadores estão preparados para ser “importunados” por cães, e até torcem para que isso aconteça, tantas vezes quanto seja possível. Cabe a cada um conhecer seu cão, educá-lo e socializá-lo para frequentar o espaço sem causar constrangimentos, incômodos ou acidentes.

Isso só é possível porque as pessoas respeitam o espaço umas das outras. Alguém se lembra da célebre cena de Marley & Eu, quando John leva Marley a uma praia para cães, e quase morre de vergonha quando ele faz cocô no mar? Um dos frequentadores da praia diz, “se ele não se comportar, nós seremos banidos da praia.” Isso está expresso no site de Huntington – se os frequentadores pisarem na bola, todos podem perder o direito de usar a praia com seus cães. Assim, então, todos trabalham juntos pelo direito de todos.

Conclusão…

Em suma, essa é infelizmente uma diferença cultural. Nós brasileiros somos normalmente egoistas demais para pensar no direito do outro. Assim, nossos cachorros não podem ir à praia e não há praias para cachorros. Eu e você, que somos humanos responsáveis, e que temos bom senso suficiente para levar nossos pets para onde quer que seja, pagamos o pato. Pense nisso.

PS: É importante dizer que a praia não é lugar para qualquer cachorro – pelo bem deles. O sol e o calor em excesso podem fazer mal à saúde, o mar é perigoso para cães que não sabem nadar, a sujeira da praia pode transmitir doenças, eles podem cortar as patas em latas e cacos de vidro, etc, etc, etc.

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no email
Email
Compartilhar no pinterest
Pinterest