O que é o nervo vago e porque ele importa no bem-estar dos cães

Nos últimos tempos, muito se fala sobre o nervo vago em cães como se ele fosse uma solução mágica para o stress. Mas o corpo não funciona com botões de liga e desliga. Entenda como o nervo vago realmente atua no equilíbrio emocional dos pets e o que você, tutor, pode fazer para ajudá-lo a funcionar de forma natural e saudável.

nevo vago e o sistema nervoso dos cães

O termo nervo vago parece ter virado moda nas redes sociais — e, de certa forma, é positivo que as pessoas estejam falando mais sobre o sistema nervoso e o bem-estar emocional dos animais. O problema é que, junto com a popularidade, vieram também as simplificações. Muitos posts e vídeos têm vendido a ideia de que estimular o nervo vago é como apertar um botão que desliga o stress dos cães — e isso, claro, não é verdade.

O nervo vago é um dos nervos mais importantes do corpo, tanto em humanos quanto em outros mamíferos. Ele é o principal mensageiro do sistema nervoso parassimpático, o responsável por devolver o corpo ao estado de calma depois de uma situação de alerta. Em outras palavras, ele ajuda o organismo a respirar aliviado depois de um susto.

Quando funciona bem, o nervo vago envia sinais que reduzem os batimentos cardíacos, aprofundam a respiração, favorecem a digestão e promovem sensação de segurança. Quando está em desequilíbrio — por exposição constante a situações de medo, ruído, dor ou tensão —, ele tem mais dificuldade em regular o corpo, e o pet permanece em estado de alerta.

Um olhar pessoal sobre o tema

Andam disseminando por aí a informação de que a estimulação do nervo vago é uma solução mágica, que resolve o stress dos cães. E como tudo que parece bom demais para ser verdade, não é bem assim que funciona. O nervo vago não é um interruptor — é parte de um sistema vivo e sensível, que responde a estímulos físicos, emocionais e ambientais de maneira integrada.

Antes de tentar “ativar o nervo vago” de um cão, é preciso entender como o stress acontece no corpo. Quando o animal se sente ameaçado, o sistema simpático — aquele responsável pelas respostas de luta, fuga ou congelamento — entra em ação. O coração dispara, o corpo fica tenso, e a energia se volta toda para a sobrevivência. Depois, se o ambiente e a relação transmitirem segurança, entra em cena o sistema parassimpático, que devolve o equilíbrio. É nesse momento que o nervo vago atua, promovendo calma e recuperação.

Ou seja: não é possível ativar o nervo vago num corpo que ainda se sente em perigo. O que podemos fazer é criar as condições certas para que ele volte a funcionar naturalmente.

Como ajudar o nervo vago do seu cão a trabalhar bem

O nervo vago não precisa de choques, massagens milagrosas ou técnicas esotéricas para funcionar. Ele precisa de segurança, previsibilidade e vínculo. Abaixo estão algumas formas reais e seguras de favorecer sua regulação natural:

1. Respiração e presença calma

Cães percebem o ritmo respiratório dos humanos. Respirações lentas e profundas — inspirando pelo nariz e expirando pela boca — ajudam a regular o seu próprio sistema nervoso e, por co-regulação, o do seu cão. Antes de qualquer toque ou comando, respire fundo e esteja presente. O corpo do animal percebe essa vibração.

2. Rotina previsível

A previsibilidade é uma das formas mais poderosas de segurança emocional. Mantenha horários regulares de alimentação, passeio e descanso. Quando o cão sabe o que esperar, o corpo entende que não há ameaça, e o nervo vago tem espaço para atuar.

3. Toque consciente

Carinhos longos e ritmados, no sentido natural do pelo, ajudam o corpo a liberar endorfinas e reduzir a tensão muscular. É diferente de fazer “carinho automático” enquanto olha o celular — o toque precisa ser consciente, com intenção e presença.

4. Ambiente equilibrado

Evite sons intensos, movimentos bruscos e disputas dentro de casa. Ambientes muito barulhentos ou imprevisíveis mantêm o sistema simpático em alerta constante. Um espaço tranquilo, com cheiros familiares e temperatura agradável, favorece a regulação vagal.

5. Comunicação afetiva

A voz é um instrumento poderoso. Tons graves e suaves sinalizam segurança, enquanto gritos e comandos ríspidos podem gerar o efeito oposto. Fale pouco, com intenção calma, e observe a resposta do seu pet — boca entreaberta e relaxada, piscar lento e corpo relaxado são sinais de tranquilidade.

6. Passeio sensorial

O passeio sensorial é uma das práticas mais completas para equilibrar o sistema nervoso e estimular o nervo vago em cães. Diferente das caminhadas apressadas, onde o foco é “gastar energia”, o passeio sensorial é uma experiência de presença e curiosidade. O objetivo não é a distância percorrida, mas a qualidade da exploração. Permita que o cão caminhe no próprio ritmo, cheire o ambiente, sinta o vento, pise em diferentes texturas e faça pausas sempre que desejar.

O olfato é o principal canal de regulação emocional dos cães — cada cheirada ativa regiões cerebrais associadas à curiosidade e à recompensa, reduzindo a produção de cortisol e estimulando o tônus vagal. Além disso, o movimento corporal suave e o contato com o ambiente natural — grama, terra, árvores, água — ajudam a ajustar respiração, frequência cardíaca e digestão, os mesmos sistemas sob influência direta do nervo vago.

Um bom passeio sensorial dura o tempo que o cão precisar para relaxar. É o momento de desacelerar juntos, observar, respirar e deixar que a natureza ajude o corpo a reencontrar o equilíbrio. Essa prática é simples, gratuita e profundamente transformadora — tanto para o bem-estar físico e emocional do seu pet quanto para o seu próprio equilíbrio interior.

Quando o nervo vago não dá conta sozinho

Assim como nós, os cães também podem viver sobrecarregados por estímulos e experiências negativas. Um histórico de traumas, medo crônico ou dor pode afetar a capacidade de autorregulação. Nesses casos, o apoio de profissionais especializados — comportamentalistas, veterinários e groomers formados na Filosofia It Pet — é essencial. O manejo correto, com respeito e empatia, ajuda o corpo e a mente a reprogramarem respostas de stress.

Mais do que um nervo: um elo entre corpo e emoção

O nervo vago é, na verdade, um mensageiro da calma. Ele traduz em sinais fisiológicos o que o animal sente emocionalmente: segurança, vínculo e confiança. Cuidar do nervo vago do seu cão é cuidar da relação de vocês dois. É oferecer previsibilidade, presença e afeto — o verdadeiro antídoto contra o stress.

Em um mundo onde o barulho e o imediatismo tentam dominar até o cuidado com os animais, lembrar que a calma é um estado construído, não imposto, é um ato de amor. E esse é o coração da Filosofia It Pet.

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